217 anos do Banco do Brasil: presente amargo para quem sustenta o banco

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O Banco do Brasil completa 217 anos neste mês de outubro, mas o que poderia ser motivo de celebração tornou-se um momento de preocupação para o funcionalismo. A direção da empresa vem transferindo para os trabalhadores a responsabilidade por recuperar o resultado esperado pelo mercado, após o aumento da inadimplência no agronegócio. Enquanto o setor rural acumula calotes e renegocia dívidas, os bancários são pressionados com metas abusivas e cobranças diárias, como se pudessem compensar sozinhos os prejuízos causados por grandes produtores e conglomerados rurais.

Entre as medidas mais graves está a mudança unilateral da jornada de seis para oito horas para os assessores I e II, em desrespeito ao artigo 224 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e ao Acordo Coletivo da categoria. A reestruturação, apelidada de “MAD”, tem sido implementada sem diálogo com o movimento sindical e vem acompanhada da criação de um suposto “voluntariado”, que na prática tem imposto sobrecarga e novas responsabilidades a quem já trabalha no limite. São ações que ampliam o adoecimento, comprometem a saúde mental e esvaziam o caráter público de uma instituição construída sobre o esforço coletivo de gerações de bancários e bancárias.

A crise no agronegócio, que elevou a inadimplência de 1,32% para 3,49% em apenas um ano, tem sido usada como justificativa para cortar custos e aumentar a pressão interna. Em vez de cobrar os grandes devedores, o banco aperta seus próprios funcionários, priorizando o lucro imediato e o humor dos acionistas. Com lucros em queda e cobranças por rentabilidade, a direção aposta em fazer o funcionalismo “entregar mais” — mesmo que isso signifique mais horas, mais metas e menos qualidade de vida.

No aniversário de 217 anos, o funcionalismo não pede festa, mas respeito. O BB deve reconhecer que sua força está nas pessoas que constroem sua credibilidade todos os dias e não tratá-las como culpadas pela crise de setores privilegiados. O Sindicato reafirma que os trabalhadores não aceitarão pagar o pato do calote do agronegócio e exige que o banco reveja as medidas de aumento de jornada, o falso voluntariado e as metas desumanas. O verdadeiro presente que o Banco do Brasil poderia oferecer neste aniversário é valorizar quem o sustenta há mais de dois séculos.

* Laurito Porto de Lira Filho é funcionário do Banco do Brasil e presidente do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região