Luta contra o imperialismo e a comunicação das entidades em debate no sábado (6) no Curso do NPC

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A mesa “Extrema-direita e imperialismo cenário político e social brasileiro” abriu os debates deste sábado (6/12) do 31º Curso Anual do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação), que está sendo realizado no Rio de Janeiro, com a participação de cerca de 200 dirigentes sindicais, ativistas e assessorias de comunicação de todo o país.

A historiadora e professora-pesquisadora da UFF (Universidade Federal Fluminense), Virgínia Fontes, fez um resgate histórico das tentativas de controle político pela burguesia das comunidades carentes do Rio de Janeiro. Ela também falou sobre a mobilização contra o feminicídio, que tem crescido de forma significativa nos últimos tempos.

Segundo Virgínia, a expansão imperialista não é uma opção política, mas um imperativo da expansão do capital, uma necessidade da centralização do capital. “O imperialismo capitalista dos últimos 70 anos levou à expansão do capitalismo através da proletarização, que significa a criação de trabalhadores assalariados e a redução de direitos. Esse processo ocorre dentro de um desenho político internacional, onde grandes alianças e instituições definem políticas implementadas pelos Estados nacionais. O domínio não é apenas territorial, mas também econômico e burocrático”, apontou.

Imperialismo financeiro

Juliane Furno, docente da UFF, explicou como as economias periféricas alimentam a riqueza socialmente produzida em escala global, destacando uma transferência sistemática de valor da periferia para os centros econômicos mais poderosos. Ela afirmou que esse sistema fez com que a moeda dos EUA, o dólar, passou a ser necessária para as transações comerciais globais, tornando-se uma ferramenta de poder imperialista.

Com isso, segundo Juliane, as reservas de diversos países, incluindo o Brasil, ficaram dependentes da moeda norte-americana, beneficiando diretamente a economia dos EUA. Com essa transferência de recursos, as novas gerações sofrem com a falta de perspectivas de emprego, perda de direitos e uma economia em crise. “Essa situação cria um cenário propício para o surgimento de movimentos conservadores e reacionários, que prometem mudanças radicalizadas, mas podem não entregar um futuro de esperança ou justiça social”, alertou.

Esta mesa também teve a participação do professor da UFF, Rodrigo Sá Neto, que abordou o fundamentalismo religioso, que tem levado ao crescimento de adeptos, atraídos pelo discurso anticomunismo e conservador, com grande viés político e militar.

Também participou deste painel a professora María Julia Giménez, professora da UFRJ e sua colega Gizele Martins.

Investindo na comunicação

Com o tema “Do planejamento à ação: mão na massa na comunicação da Classe Trabalhadora”, foram abertos os debates na tarde deste sábado (6) no Curso do NPC.

O dirigente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Luciano Fetzner, iniciou sua fala fazendo um relato a respeito da estrutura de comunicação da entidade. Ele disse que são produzidos materiais para cada um dos segmentos da categoria, são ocupados todos os espaços das redes sociais, e feitos investimentos nos equipamentos e na equipe de comunicação.

A dirigente do SINPRO/DF (Sindicato dos Professores do Distrito Federal), Letícia Montgadon, também falou sobre a estrutura da entidade e da resistência encontrada com uma parcela da categoria com determinadas matérias divulgadas, como, por exemplo, a taxação dos super-ricos.

“Não existe comunicação sindical sem o trabalho de base”, afirmou Claudia Costa, jornalista do CONLUTAS (Central Sindical e Popular) no Rio de Janeiro. “Eu acho importante para a gente, que está numa entidade sindical, disputar os espaços e a hegemonia para conscientizar, mobilizar e organizar ações”, disse Claudia. Para ela, todas as ferramentas de comunicação devem ser utilizadas pelas entidades.

Marina Valente, jornalista e ativista social do Ceará, comentou sobre seu trabalho junto a entidades sindicais e defendeu a utilização de um processo educativo nos materiais produzidos, fazendo com que as categorias saibam que as conquistas vieram de lutas e que tenham consciência da importância do trabalho dos Sindicatos.

No encerramento de sua fala, Marina falou sobre a necessidade de que as entidades sindicais tenham respeito com seus jornalistas, valorizem seu trabalho, sua experiência e observem os limites da jornada de trabalho.

O diretor da ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior), Diego Marques, comentou a queda na sindicalização das entidades sindicais nos últimos anos, chegando a apenas 8% no ano passado. Segundo ele, há cerca de 10 anos esse índice estava em 32%.

Diego também criticou a falta de alternância nas direções dos Sindicatos, da renovação de quadros e da burocratização das ações. Neste sentido, ele defendeu a modernização das entidades, a ações voltadas para os jovens trabalhadores, com a adequação da linguagem para este público e outras formas de abordagem.

Comunicação Popular

No encerramento dos debates deste sábado (6), no 31º Curso Anual do NPC foi realizada a mesa “Comunicação Popular”. A primeira participação foi do jornalista e professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Rosinaldo Miani.

Rosinaldo falou sobre o planejamento, a formação e as ações, quesitos essenciais para quem vai atuar na área da Comunicação Popular. Após um breve resgate de sua experiência como profissional da imprensa sindical, ele afirmou que como docente procura formar novos jornalistas com a consciência de seu papel na luta hegemônica que é travada no movimento sindical e popular.

Erica Vanzin, ativista do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Paraná afirmou que esta organização tem uma concepção construída para informar, buscando desvelar a identidade invertida, formar para elevar a consciência e organizar para a luta. “Tenho 26 anos e minha formação foi debaixo de lonas, onde fui alfabetizada por uma escola criada pelo MST”, revelou. Erica finalizou sua participação no Curso apresentando os princípios do MST.

A jornalista Camila Marins falou sobre a falta de políticas sociais para as mulheres lésbicas e do seu trabalho na Revista Brejeiras, criada para divulgar informações sobre este segmento da população brasileira. Camila falou do medo das “sapatões” de abrir as portas de suas casas para homens, com medo de violência.

Segundo ela, a Revista, que está em sua oitava edição, com tiragem de 1.00 exemplares, é um instrumento de luta coletiva.

Geremias dos Santos, do movimento Abraço, do Mato Grosso, fez uma crítica a não utilização do rádio como ferramenta de comunicação pelo movimento sindical. De acordo com ele, com a aprovação de um Lei no Congresso Nacional, foi triplicado o número de emissoras digitais no país nos últimos anos. “Se nós, cada um do movimento sindical, poderíamos nos comunicar com todo o Brasil”, provocou. Geremias também defendeu a criação, pelo Governo Federal, de uma emissora da TV Brasil, em cada estado do país, além de recursos para as rádios comunitárias.

Esta mesa foi encerrada com a fala da comunicadora do Jornal Coletivo Garotas da Maré, Simone Lauar. Ela contou que seu interesse pela Comunicação Popular surgiu do aprendizado que teve com o seu avó e impulsionado por influência de uma jornalista.

Simone contou dramas vividos pela comunidade do Complexo de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, em especial durante a pandemia de Covid-19. Neste período, a ativista disse que o Coletivo decidiu criar um perfil no Instagram para buscar ajuda às pessoas que tiveram depressão pela falta de alimentos e diversas demandas enfrentadas pela omissão do governo Bolsonaro.

Sonhando ainda fazer um curso superior, Simone acredita que “Comunicação popular se faz com amor”.

O evento foi encerrado neste domingo (7), com a exibição dos filmes:
“Lute como uma camelô, curta sobre trabalhadoras ambulantes e
“Union”, que trata da luta dos trabalhadores da Amazon nos EUA

Por Armando Duarte Jr.