Bradesco assedia funcionários em home office para vender produtos a idosos

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Diante de um cenário de incertezas e insegurança de toda a população brasileira com a circulação do coronavírus no País, num contexto de pandemia mundial pelo Covid-19, em que não se sabe ao certo o impacto social que a doença deixará, os trabalhadores sofrem um leque de descaso.

A Classe Trabalhadora está dividida entre os que prestam serviços considerados essenciais e estão submetidos aos riscos de continuar trabalhando nas ruas para promoverem atendimento básico à população e os que permanecem em casa, por estarem no grupo de risco, por consciência coletiva e por readequação das condições de trabalho que o momento exige, em respeito a decretos governamentais.

O que ocorre nas instituições financeiras é uma negociação permanente entre os Sindicatos que representam a categoria e a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), para readequar a prestação de serviços entre o que é essencial para ter atendimento presencial e o que pode ser deixado para depois.

“Nós estamos buscando os banqueiros para ter uma resposta mais rápida a todos os cuidados necessários para proteger os bancários e clientes da contaminação. Infelizmente os banqueiros não estão com essa mesma preocupação, eles não estão em sintonia com essa mesma necessidade do momento”, explica Junior Cesar Dias, presidente da FETEC-CUT-PR (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná), que participa das negociações com a Fenaban.

Entre os bancários do Bradesco, mesmo quando os seus patrões são obrigados a mantê-los em home office, a saúde, a manutenção da vida e a contenção da transmissão do vírus não são a principal preocupação dos gestores. Só estamos no terceiro dia em que esses trabalhadores estão tendo o direito de permanecer em casa, mas as cobranças de metas incluem explorar a fragilidade de seu público-alvo para assim vender mais produtos financeiros.

“Bom dia time do consignado, tudo bem? Hoje começa nosso dia de pagamento de aposentados. Eu queria pedir pra vocês não perderem a oportunidade, turma, da gente colocar nosso cartão consignado INSS. É uma oportunidade ímpar pra nós”, registra um diretor regional do Bradesco em Curitiba aos seus subordinados, nessa semana.

O áudio, recebido pela direção do Sindicato de Curitiba também menciona a “oportunidade” de ampliar a abertura de conta corrente no banco privado via recebimento de pagamento de benefício pelo INSS. “Um pedido para que a gente não desperdice esse momento, temos uma oportunidade bacana”, diz o regional.

Uma outra ocorrência que o movimento sindical teve acesso nesta semana de confinamento é a forma assediadora de cobrança de metas, com exposição de nomes de trabalhadores que estariam fazendo o que é considerado “um bom trabalho” e, consequentemente, do “grupinho” de gerentes que, num cenário de pandemia, está sendo exposto pela diretoria regional Bradesco Cascavel por realizar home office com “barulhos” perceptíveis de suas casas e relações familiares nesse contexto extremo.

“E assim, gente, vocês são gerentes de agência, todos sênior, a gente ouve pagodão atrás, televisão com filme, fazendo uma série de coisas, menos o home office”, diz o áudio de orientações que o Sindicato teve acesso.

Para a representante do Paraná na COE (Comissão de Organização dos Empregados) do Bradesco, Cristiane Zacarias, ambas as orientações prestadas por duas regionais diferentes para os trabalhadores do Bradesco estão inadequadas para esse momento que o País vive. “As pessoas estão em home office com filhos e outros integrantes da família em convivência, e esse ambiente não pertence ao banco. Não é possível ter o isolamento que ocorre nos locais de trabalho. Expor os colegas dessa forma trata-se de conduta assediadora e desnecessária”, critica a dirigente sindical.

Outro ponto que Cristiane destaca é que se aproveitar do contexto de fragilização de todas as pessoas para enxergar como “oportunidade” de venda direcionada a idosos é um descaso do banco com a conjuntura por coloca em risco essas pessoas. “O argumento do banco para abrir as agências se baseia no atendimento às questões emergências e o pagamento do INSS é uma delas. Porém, esse pedido de vender produtos aos aposentados fará com que as pessoas idosas permaneçam mais tempo nesses locais”.

Descaso

O movimento sindical bancário busca, de forma permanente, negociação com os bancos, inclusive com o Bradesco, que até o momento, entre os maiores privados, não se comprometeu sequer em não demitir seus trabalhadores durante a pandemia. “Os banqueiros não estão atendendo as reivindicações e orientações na velocidade que é precisa. O Bradesco é um dos maiores bancos e nem sequer se pronunciou sobre não demitir funcionários no momento de pandemia e tem papel importante nessa mesa de negociação”, salienta Junior Dias.

O banco também já foi notificado para se responsabilizar pelos terceirizados que compartilham os centros administrativos com as pessoas protegidas pela Convenção Coletiva dos Bancários por terem esse vínculo empregatício direto, e que não prestam serviços essenciais.

“Lembrando que as instituições financeiras passam longe da crise econômica que assola o País muito antes do coronavírus e que que justamente se alimentam dessa crise, ampliando sempre seus lucros, e o preço parece ser o descaso com a população”, ressalta Cristiane.

Segundo Laurito Lira Filho, diretor do Sindicato de Londrina, esse tipo de cobrança também está ocorrendo no âmbito da Regional do Bradesco na base territorial da entidade. “Recebemos denúncia sobre essa conduta inadequada dos gestores do banco, que parecem ter se apropriado da visão do banqueiro, para quem o lucro fácil é e será sempre prioridade. Para ele, não importa se para obter isso sejam deixados de lado o respeito às pessoas, à saúde ou suas próprias vidas”, compara o diretor do Sindicato de Londrina.

Por Paula Zarth Padilha/FETEC-CUT-PR